Em nossa última publicação sobre o COPOM (http://blog.duxus.com.br/2024/09/11/copom-no-horizonte-visao-de-06-set-24/) destacamos o comportamento das apostas para o COPOM de setembro, levando em consideração os impactos da divulgação do IPCA no dia 10/09. As apostas estavam certas e o Banco Central optou por aumentar a SELIC em 25 bps. Restam duas reuniões até o final de 2024, sendo necessário estudar as apostas do mercado, utilizando a curva pré-fixada do dia 30/09 desenhamos as expectativas para a SELIC.
Resultados
Taxa SELIC atual: 10,75% a.a
Decisão de Novembro/24:
85% acreditam em AUMENTO de 0,50 ou SELIC a 11,25%
15% acreditam em AUMENTO de 0,75 ou SELIC a 11,50%
Decisão de Dezembro/24:
75% acreditam em AUMENTO de 0,75
25% acreditam em AUMENTO de 0,50
Decisão de Janeiro/25:
55% acreditam em AUMENTO de 1,25
45% acreditam em AUMENTO de 1,00
Constatações
Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (30) pelo Relatório Focus do Banco Central as projeções para a SELIC em 2024 subiram. O boletim aponta para uma SELIC de 11,75% a.a. O mercado, porém, tem precificado a SELIC com maior aceleração. Ao analisar as expectativas para as próximas reuniões, é possível notar que o mercado tem apostado em aumentos para a Selic parecidos com o que vemos no Relatório Focus, com exceção da última reunião do COPOM no ano, onde nosso modelo aponta para apostas de 75bps, diferente dos 50bps amplamente atribuídos a última reunião do ano. Dessa forma, há uma certa divergência acerca da Selic ao final do ano, onde as apostas se concentram entre 11,75% a.a ou 12,00% a.a.
O destaque, porém, se dá a partir de janeiro, quando as apostas do mercado começam a descolar mais do pace atual das subidas de juros. Com base nos resultados coletados por meio do nosso modelo, é possível notar preços mais esticados com uma SELIC em Janeiro de aproximadamente no mínimo 12,75% a.a – levando em consideração os aumentos anteriores -, em um cenário de apostas do mercado divididas entre aumentos de 100bps e 125bps.
Bem, isto difere da Circ. 3.876, replicada também a seguir.
Enfim, são entendimentos que precisam ser alinhados.
Mas, entender como ganho ou perda, tem dois impactos:
Informar o sinal do P&G corretamente ao regulador; e
Usar o valor de P&G de forma prudencial e a fim de ter uma alocação de capital coerente.
O primeiro impacto afeta apenas a qualidade da informação, mas o segundo impacto, pode gerar erros de avaliação de capital pelas instituições financeiras.
Sendo assim, podemos explorar mais um exemplo didático, porém com menos “bancos”
Os 2 Bancos
Para melhor didática, serão utilizados 2 bancos fictícios, com nomes apropriadamente escolhidos:
Banco Alligator
BancoBird
Todos os 2 bancos possuem uma operação de crédito apenas, com o mesmo prazo e com o mesmo indexador, classificada na carteira banking, mas com contrapartes diferentes.
Detalhes da operação:
Contraparte: Irrelevante aqui, mas com classificações de crédito distintas
Modalidade da operação: crédito (modalidade propriamente dita, não é relevante)
Valor a pagar: R$ 100.000.000 (cem milhões, devidos no vencimento)
Prazo remanescente: 10 anos ou 2520 du
Prazo original: 12 anos ou 3024 du
Indexador ou fator de risco: Pré
Curva de Juros pré-fixada: flat em 10% a.a. desde a data da operação até a data atual
Detalhes das operações de cada banco:
Banco
Banco Alligator
Banco Bird
Taxa da Operação a.a.
50%
10%
Valor do Principal (R$ Mil)
771
31.863
Valor Acruado (R$ Mil)
1.734
38.554
Adicionalmente, todos os bancos se financiaram na taxa de mercado para o prazo original de 3 anos (remanescente de 1 ano), sendo a captação classificada na carteira banking, assim como a operação.
Demais saldos não aplicados foram aplicados também num ativo pré-fixado como mesmo prazo e condições do passivo e também na carteira banking, sendo acruados na mesma taxa contratada.
Balancete dos Bancos
O balancete dos bancos reflete as operações realizadas e contabilizadas e, novamente para efeitos didáticos, os bancos possuem apenas as operações mencionadas e, para ilustração, estamos em julho de 2024.
R$ Mil
Banco Alligator
Banco Bird
Ativo
1.734
38.554
Op. Crédito
1.734
38.554
Passivo
1.734
38.554
Captação
932
38.554
Resultado (a realizar)
802
0
O bancos são bem diferentes em termos comerciais.
DNII dos Bancos
Em função do fator tempo do cálculo do DNII, nem a operação ativa e nem a operação passiva impactarão no cálculo.
Em resumo, o DNII dos 2 bancos ficará como a seguir.
R$ Mil
BancoAlligator
BancoBird
DNII
R$ 0
R$ 0
DEVE dos Bancos
Para o cálculo do DEVE, o ponto de partida é a marcação a mercado das operações e a medição de sua variação ou perda com base nos choques e o pior cenário DEVE – para todos os bancos – será o choque paralelo Up de 400Bp.
No entanto, os bancos possuem ativos e passivos.
R$ Mil
Banco Alligator
Banco Bird
DEVE (+)
11.580
11.580
DEVE (-)
-3
-1.353
DEVE
11.547
10.227
Em função do mesmo MTM para a ponta ativa, o DEVE (+) é idêntico para os bancos. Mas o passivo é diferente, pois as captações foram igualmente diferentes, uma vez que o Banco Alligator precisou captar muito menos.
Perdas e Ganhos
Novamente e como no post anterior, para perdas usaremos o módulo das medições, deixando a discussão do sinal para depois.
R$ Mil
BancoAlligator
BancoBird
|P&G|
38.820
0
Agora, estamos pronto para a análise do uso do P&G.
Vertentes de Uso do P&G
No post anterior, destacamos duas vertentes de uso. Agora, vamos fazer a combinatória as vertentes e identificar 4 casos de uso.
Importante lembrar aqui que o uso do P&G não é uma função direta, mas uma proporção dependente da estrutura do balanco da instituição. Aqui, vamos generalizar para ftx(P&G) ou função de transferência do valor de perdas e ganhos.
As vertentes combinadas geram os 4 casos:
MTM > ACC é ganho e deve ser adicionado ao EVE.
MTM > ACC é ganho e deve ser subtraído do EVE.
MTM > ACC é perda e deve ser adicionada ao EVE.
MTM > ACC é perda e deve ser subtraída do EVE.
Antes de aplicar os valores do exemplo, podemos simplificar as interpretações pois os casos 1 e 3 são equivalentes, assim como os casos 2 e 4. A única diferença entre eles seria o sinal do saldo a ser informado ao legislador, mas o impacto na alocação seria idêntico. Ficamos então com duas situações:
Vertente A: DEVE – ftx(P&G), indicando ganhosubtraído ou perdaadicionada ao DEVE
Vertente B: DEVE + ftx(P&G) , indicando perdasubtraída ou ganhoadicionado ao DEVE
Como o valor de P&G para o Banco Bird é 0, só precisaríamos estimar a ftx(P&G) do Banco Alligator.
Detalhes omitidos, mas considerando spreads apenas sobre o ativo, a ftx(P&G) do Banco Alligator é de aproximadamente 30%. Ou seja, 30% do valor de P&G pode ser abatido para o DEVE por redução de valor MTM (que não é o caso deste post).
Sendo, assim, a tabela abaixo apresenta os resultados de uma análise isenta sobre os números.
R$ Mil
Banco Alligator
Banco Bird
Vertente
A
B
A
B
DEVE
11.547
11.547
10.227
10.227
|P&G|
36.820
36.820
0
0
ftx(P&G)
30%
30%
Sinal P&G
– ou +
+ ou –
Impacto DEVE
Subtração
Adição
DEVE Normalizado
501
22.593
10.227
10.227
Observando os números acima, na vertente A, o DEVE do BancoAlligator, que possui operações com spread (comercial) enorme (daí o nome), teria um DEVE normalizado bastante compatível com o seu balanço.
Já na vertente B, o BancoAlligator, pequeno, mas guloso nas suas operações comerciais, teria um DEVE de cerca de 2x o valor do Banco Bird e bastante incompatível com seu balanço.
Conclusão
Não há conclusão, mas uma das vertentes parece fazer mais sentido, independente da necessidade de ajuste no sinal informado ao regulador.
Estamos nos aproximando da próxima reunião do COPOM e as incertezas quanto ao cenário econômico nos obrigam a ficar de olho no que está por vir nos próximos dias. Com base nas curvas de fechamento dos dias 09/09 e 10/09, é possível observar o comportamento das apostas levando em consideração os novos dados divulgados do IPCA no dia 10/09. Abaixo, elaboramos uma análise acerca das expectativas do mercado:
O Resultado
Taxa SELIC atual: 10,50% a.a.
Expectativa do mercado para a SELIC no dia 09/09:
80% acreditam em ALTA de 0,25 ou SELIC a 10,75%
20% acreditam em ALTA de 0,50 ou SELIC a 11,00%
Expectativa do mercado para a SELIC no dia 10/09:
85% acreditam em ALTA de 0,25 ou SELIC a 10,75%
15% acreditam em ALTA de 0,50 ou SELIC a 11,00%
Constatações
Não é de se surpreender que o mercado esteja esperando uma alta na SELIC. As sinalizações do Banco Central, as falas atuais do presidente da autarquia e os dados recentes apontaram para uma inversão do movimento da SELIC, que, até então, vinha por um processo de queda. Com o mercado apostando numa subida dos juros, voltaríamos a um patamar de taxa de 10,75% a.a, mesmo cenário de março, onde estávamos passando por um processo diferente do atual.
No gráfico, temos as expectativas do mercado em relação a Selic para dois dias recentes. No dia 09/09 o mercado ainda estava digerindo o boletim FOCUS, divulgado na manhã do mesmo dia, onde os principais players do mercado especulavam um IPCA ao final do ano em 4,30%. No dia seguinte, com a divulgação do IPCA mostrando deflação de 0,02% – primeiro movimento de inflação negativa no ano – o mercado alterou suas expectativas em relação a Selic. No primeiro dia, obtivemos uma análise das expectativas do mercado apontando para 80% apostando numa alta de 0,25 e 20% do mercado acreditando numa alta de 0,5, após esses dados o mercado diminuiu as apostas para o aumento de 0,5 para 15%. A diminuição da inflação é um indicador de menos pressão para o Banco Central que terá uma margem maior para conseguir adequar as metas, e, por sua vez, passar por um processo mais gradual no aumento das taxas de juros e o mercado souber ler isso bem.
De qualquer forma, podemos afirmar que o cenário não é ideal, afinal, mercado em dúvida é sinalização de um ambiente ruim. E como podemos ver, as apostas não estão consolidadas e há incertezas que ficam ainda maiores no decorrer das próximas reuniões do COPOM. Por hora, resta esperar qual será a decisão em relação a Selic que ocorrerá no dia 18/09.
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